sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Conferência

“Preciso me apressar”, pensou Lucimara.

Não posso perder o vôo e me atrasar para a Conferência! Gosto de ser pontual, nesse ponto sou incorrigível! Pontual ou apressada? Sei lá! O certo é que cheguei no horário e já estamos chegando ao nosso destino. Consulto o relógio. Ele marca 5h30min. O dia começa a raiar, vejo pela janelinha do avião a suave claridade do amanhecer.

Uma coisa, porém, eu não entendo. Por que estou viajando sozinha? onde estão os outros? Minhas colegas? Será que tomei o vôo errado?

Não! O horário previsto para a chegada era 5h30min! Vou verificar no bilhete!
“Atenção: Apertem seus cintos, preparar para aterrissagem”. Ouvi a voz do piloto! Agora não posso mexer na minha bagagem de mão. Ah! deixa prá lá, já estamos chegando mesmo...

Que estranha essa sensação de inquietude, essa incerteza de não saber direito para onde estou indo! Mas por quê? Se está tudo preparado, hotel, quarto, local da conferência, tudinho! Porque não me sinto segura?
Pronto! estava pensando bobagens! Chegamos ao hotel! Huum lindo hotel... Todos estão dirigindo-se ao balcão para pegar as chaves dos aptos. Minhas colegas já devem ter subido. Mas onde está meu marido? Ele sempre cuida dessas coisas para nós... Oh! Lucimara, você está pirando... Esta vez está viajando só. Não interessa a ele esse tipo de Conferência.

A minha chave, por favor, pedi ao jovem. O mocinho sorriu, fez sinal de espera para mim e continuou atendendo os demais passageiros... Virei-me para uma senhora madura, mais de setenta anos de idade e tentei puxar assunto, para disfarçar meu nervosismo, mas ela parece que não me ouviu. Pensei: É surda, coitada... Minha ansiedade começou a crescer! Vou verificar onde ficou a minha bagagem. Onde deixei? Onde deixei meus documentos, a minha bolsa? Os meus cartões? Meu Deus, onde larguei as minhas coisas? Minhas mãos começaram a suar... Agora eu estava quase em pânico...
Perguntei ao atendente onde costumavam guardar os pertences dos hóspedes neste hotel. Ele respondeu. Graças á Deus ele me ouviu. Pareço até invisível para todos neste local!!!Que sensação esquisita!!!

-A senhora acaba de chegar?

Respondi, com voz trêmula:

-Sim!

- A senhora terá que esperar a sua vez. Pode ficar tranquila, nós a chamaremos.Tentei brincar comigo mesma. Lucimara te acalma, respira... como escuto nas aulas de Yoga!
Que gente antipática... Cruzes!!! Peguei-me pensando! Puxa não deveria estar pensando isso, mal conheço essas pessoas!!!


Vi um grupo rindo e falando alegremente. Me aproximei e me apresentei. Um deles respondeu-

És do nosso grupo?

-Sim,sim, disse apressada!!!

Sobre que tema vai discorrer? Mas o que estou fazendo? Mentindo? Por que quero ser aceita? Não, Lucimara, não deve ser por aí... Afastei-me envergonhada.
Sai para o Jardim, precisava esperar mesmo. O Jardim muito bem cuidado! Havia nele uns bancos de madeira... Vislumbrei varias pessoas sentadas...
Ah.. Mas que coisa triste!!! Pensei quase chorando. Não consigo me encontrar... Onde estão minhas colegas, nós combinamos chegar juntas!!! Porque elas não chegam?? Por que não vieram no mesmo voo! Parece um pesadelo!
Nisso, vi alguém só, sentado num banco. Me dirigi até lá. Era uma moça encorpada, mais parecia um homem...
Me aproximei e perguntei-lhe:

- Também estas esperando a chamada? Ela respondeu

- Mas que chamada???

Que pessoa mal humorada e mal educada também, poderia ter sido menos grosseira... Ela levantou e dirigiu-se a outra moça baixinha e loira depois voltou... Sorriu para mim e convidou-me a entrar no hotel. Disse-me:

-Precisamos entrar, pois está quase na hora da Conferência e preciso ainda dar uma revisada no tema que irei tratar. Vamos?

Que mania tenho de fazer julgamentos precipitados "não julgueis para não seres julgado” disse Jesus, pensei comigo, está na Bíblia. Albert Einstein também citou"quem decidir se colocar como juiz da verdade e do conhecimento é naufragado pela gargalhada dos deuses''. Li não sei onde isso. Precisa te corrigir, Lucimara...
No curto trajeto até a entrada do hotel, conversamos banalidades, mas pude perceber que ela era muito instruída, falava com propriedade sobre vários assuntos, pelo menos daqueles que tratamos no nosso curto percurso. Tive a sensação de que ela sabia o que eu havia pensado dela. Me senti constrangida. Preciso me corrigir pensei!
- Até breve disse-me e entrou no hotel.

Entrei a seguir e fui direto solicitar a chave! Acho que já dera tempo de sobra...



Novamente deparei-me com muita gente acotovelando-se no balcão, parecia-me ser excursões ou daqueles grupos onde um se identificava e os demais o seguiam, alguns muito amargurados, outros com ares festivos!!! Mas todos tinham uma destinação conforme as acomodações do hotel!

Olhei pela janela, delineava-se o entardecer. Agora sim comecei a entrar em pânico mesmo. Sempre fora rígida com os horários, ia perder a conferência, não tinha quarto, não encontrava com minhas colegas, meus documentos... Perdi-me dos meus pertences!
Meus pertences! Ah... O sentido agregador do homem, mas sem eles fico sem referencial! Sou Lucimara !!! Mas como vou provar isto? Que angustia... Oh! Deus orei baixinho. Estou tão sozinha... Longe da minha cidade, dos meus parentes e amigos... As lágrima molham minhas faces, mas que importa? Ninguém me vê mesmo!!! A fé é minha única esperança!!!

Senhora! Sua chave mostrou-me o rapaz!

- Obrigada e corri para o elevador, o numero de meu quarto era 554, que bom!

- Quinto andar, por favor! Ah! que alegria!

O número chegava ofuscar minha visão. Abri a porta!

Mas como? Era um quarto de hospital???

Minha cama hospitalar estava vazia, bem estendida com lençol verde claro. Sentei-me nela atônita!!! Observei a companheira de quarto, o soro gotejando.

- Dá licença - entra a enfermeira - trouxe seus medicamentos! A senhora está bem?

Ela respondeu com outra pergunta. E apontou para meu leito, Como está?

-Não resistiu a pobrezinha...

Num instante eu estava no necrotério. Como? Havia duas Lucimaras? Não aquela que ali estava, não era eu!!! Não podia ser eu! A pele amarelada, jogada sobre uma maca, o braço direito caído inerte e rígido!!! Não pode ser gritei a plenos pulmões...
Vi o médico consolando meus filhos que choravam. Não é mais ela é apenas um corpo!
E eu?

Agora para onde vou???

5 comentários:

Elenara Stein Leitão disse...

h, tás me saindo uma escritora ! Daqui a pouco vais editar um livro ! Parabéns !
Beijos
Elenara

Karine disse...

Muito envolvente o texto. Não dá vontade de parar de ler! Concordo com a Elenara, tá na hora do livro!
bjs
Karine

Vera disse...

vocês são muito queridas,mas são apenas contos, sem pretensão ...Obrigada por me motivarem a seguir postando outros né bjus vera

Angela Rosana disse...

São apenas contos, mas expressam sentimentos. Parabéns, bjs!

Irene Genecco disse...

PÔOO, que surpresa. Gostei muito! Parece um pouco com aquela angústia de KafKa no livro "O Processo" Envolvente! bjs
Irene