Laiza era saudável, gostava de festas, namoricos e pinturas. Era capaz de trocar um vestido por um baton, rouge ou algo que lhe ressaltasse, tornasse mais marcante seu lindo rosto...
O pai de Laiza, mulato pobre mas distinto, começou a temer pela reação que a beleza e a graça da filha despertava nos homens. Não demorou muito e começaram a aparecer os pretendentes... Ela ria e dizia: “Pai, eu não estou interessada em namorar, pode ficar sossegado”. Sossegado ele? Estava sim era preocupado, daí a pouco, faria a festinha de seus quinze anos e daí? Era preciso que Laiza encontrasse um homem trabalhador e sério para casar. Estamos em época de guerra e as mulheres vão ficar cada vez mais sozinhas, ao que tudo indicava. O Brasil também seria convocado a entrar, a qualquer momento, nesta guerra... Pensava ele...
Não demorou muito, uma vizinha viúva e com quatro filhos moços veio morar na mesma rua da casa de Laiza.
Todos os rapazes trabalhavam, dois com mercearia, um com padaria e o outro servia o exército. Este último, o mais malandro de todos era enfermeiro!! Bonito, alegre com belos olhos castanhos... Era um boêmio, insinuante e conquistador.
No dia da realização da festa do aniversário de Laiza, a familia foi convidada e todos compareceram!!!
Laiza estava linda, num vestido florido com mangas longas e um generoso decote nas costas, moda proposta pela modelo e atriz Greta Garbo. O visual sofisticado não combinava com a idade da mocinha. Mas “moda é moda”, pensava sua mãe! Para as loiras da época o modelo era Marlene Dietrich!!!
Laiza não tinha nenhum namorado, mas seu coraçãozinho já tinha dono! Desde que vira o enfermeiro, não parava de pensar nele, via nele tudo de bom, charmoso, bonito, cantava e tocava como ninguem!!! Era preferido pelas solteiras da região.
Ele acompanhou, no violão, o parabéns, cantado para ela.
Depois pediu licença para tocar um dos sucessos de Carmem Miranda, em homenagem à aniversariante. Foi solicitado a tocar outras melodias de Dircinha e Linda Batista, que eram sucesso das cantoras de rádio.
Já passava da meia noite quando os convidados começaram a se retirar, Laiza estava na sacada, sentindo a brisa leve e fresca da noite e agradecendo às estrelas o sucesso da festa!!
Alguém lhe enlaça os ombros e pergunta: “Sozinha?”
Seu coração parou, ou quase!
- ahn!
Foi só o que disse!
Enlaçou-a pela cintura e falou:
-Juro pela estrela mais brilhante do céu que nunca mais ficaras sozinha!
O coração batia tresloucado, quase a sufocando... Ela estava em seus braços e a vida era maravilhosa... Ele sussurrou mais algumas palavras de amor ao seu ouvido e ela encheu-se de alegria jubilosa!!
Pediu licença para namorá-la e começou a frequentar a casa. Cantava só para ela, dançava só com ela. Só havia festa para ele, enquanto estivessem juntos. Foi granjeando a simpatia da família, até que começaram a ter mais tempo a sós.
O rádio lançava notícias sobre a guerra, as atrocidades cometidas por Hitler.
No Brasil, a revolução Constitucionalista acaba, com a instituição do Estado Novo.
Mas a vida não para... nem diante da guerra, nem diante do amor.
-Grávida?
Perguntou-lhe sua mãe. “Que vergonha para nós? Que dirá seu pai?”
O pai ficou tão abalado que tentou suicídio. Expulsou Laiza de casa!!! O noivo há duas semanas não aparecia...
Quando foi procurá-lo, ele lhe disse:
-Querida eu não conseguirei prender-me a uma vida de casado!!
-Mas eu não tenho para onde ir?
-Casar até caso, mas não te prometo que mudarei meus hábitos!
Casaram numa cerimônia simples, apenas os pais e padrinhos. Ela foi morar com a sogra, já que os outros filhos estavam noivos e, logo, logo, deixariam a casa só para eles.
Os sonhos da mocinha caíram por terra quando ele voltou de manhã, da farra, com os amigos boêmios, na noite do casamento!!!
Laiza chorava, perguntando-se:
- O que havia de errado? Porque ele já não era mais o mesmo?
Ele como bom malandro, desculpava-se lhe beijava e ela esquecia tudo!!
Passara-se um mês... Era o primeiro aniversário de casamento. Colocou uma mesa bem bonita com velas e flores. Ficou a esperar-lhe.
A vela acabou, a comida esfriou e ele não apareceu.
Não voltou por três dias.
Como uma sombra ela procurava por ele. Ninguém sabia ou queria informar. A sogra nada disse, manteve-se calada.
Laiza foi sentindo um vazio enorme, sua cabeça parecia oca. Ficou tudo escuro e ela caiu!!Não resistiu a curetagem, morreram: Ela e a criança... .
Um vulto todo de preto, abriu alas no enterro. Ele queria vê-la!!!
Saia daqui gritou a mãe desesperada! saia seu monstro!
Perdão, Laiza perdão!!!
Mas ela já não podia mais ouvi-lo!!!
Uma música, ouvia-se ao longe, como fosse a resposta de Laiza:
"Monstro tirano porque vens agora? Lembrar-me as mágoas que por ti passei?
Lá neste mundo em que vivi chorando... Desde o momento que te vi e te amei...”
Saia daqui gritou a mãe desesperada! saia seu monstro!
Perdão, Laiza perdão!!!
Mas ela já não podia mais ouvi-lo!!!
Uma música, ouvia-se ao longe, como fosse a resposta de Laiza:
"Monstro tirano porque vens agora? Lembrar-me as mágoas que por ti passei?
Lá neste mundo em que vivi chorando... Desde o momento que te vi e te amei...”