domingo, 4 de julho de 2010

O Coração e Suas Razões



Era professora, sempre rodeada de livros, seminários e revistas, principalmente de ensino.
Verbosa, com talento para não repetir palavras. Não repetia duas vezes a mesma palavra. Tinha sinônimos para tudo. Os verbos, declinava-os todos, até o subjuntivo, se preciso fosse. Terminava bem todos os vocábulos, os esses e erres eram pronunciados com ênfase.
Era viúva há mais de quinze anos e aposentada. Costumava fazer seu passeio diário ao redor da praça, que tinha, num dos lados, a frente para uma linda igreja, criada pelos padres jesuítas.
Gostava de entrar na igreja para fazer oração. Tinha sido muito bela e ainda mostrava traços marcantes de sua antiga beleza. Era altiva, mas generosa e muito educada.
Vestia-se com elegância e, depois que se habituou com a bolsa à tiracolo, mesmo sabendo que comprometia sua silhueta, devido a escoliose pronunciada, não abria mão desta, por ser muito prática.
Num domingo de manhã, após a missa, sentou-se no banco da praça e ficou observando os transeuntes. Era gente que ia e vinha, crianças de bicicleta, jovens abraçadinhos arrulhando como pombinhos, apaixonados. Era bonito de ver!!!
Reparou num senhor, forte e meio calvo que lia o jornal, na parada do ônibus. De repente, um pé de vento, arrancou-lhe o jornal das mãos, que saiu desfolhando-se todo. Ela levantou-se rápido, apanhando o que pode do jornal desarticulado e devolveu a seu dono. Ele ficou muito agradecido. Pediu para sentar a seu lado para por em ordem o jornal.
Conversaram sobre banalidades, até que ficaram sabendo um do outro. Ela, viúva. Ele, divorciado. Ela, com filhos criados e casados. Ele também. Ele gostava de escrever. Ela, de ler...
Assim, começaram uma amizade, sempre se encontrando na pracinha. A amizade já durava dois meses. Numa tarde muito quente, ela não viu mal nenhum em convidá-lo a tomar um suco no seu apartamento, tão pertinho. Uma quadra da igreja. Ele aceitou... Deste dia em diante ele passou a visitá-la no apartamento.
Certo dia, porém o homem pegou sua mão e encostou no seu rosto!
- Sabe, eu estou tão sozinho!!!
Nesse momento, a professora ficou imóvel, não por achar atrevida a ação do homem, mas porque seu corpo tremia respondendo a um apelo que, ela imaginava, estivesse enterrado com seu marido! O rosto em brasa, os lábios tiritando.... Foi quando se deu conta de sua loucura. Como uma mulher de sua idade, poderia estar sentindo isso. Que pensariam seus filhos? Seus vizinhos? Ela não tinha este direito...
- Que é isso? Sou uma viúva de respeito! Saia já de minha casa!
Mas o que nos impede? Disse ele numa voz sumida, quero sua companhia... Gosto de estar contigo!
Por favor não insista. Ele saiu lentamente. Ela ficou ouvindo seus passos que se afastavam no corredor...
Chorava convulsivamente. Perguntava-se:
- Será que eu tenho este direito? Como o corpo pode reagir assim após tantos anos de solidão? Pode uma viúva sentir estas reações de adolescente?
Chorava, por que ele se fora. Chorava por ela mesma. Não sabia, as lágrimas se confundiam. Forças estranhas se debatiam dentro dela. Vergonha e desejo. Vergonha sujeira, pecado, desonra... Desejo, correspondia ao sexo e ao amor!
Mas ela não se sentia capaz de tal aventura... Não tinha esta coragem.
Foi ficando triste e perdeu a alegria de viver.
Nunca mais se ouviu falar dela.

domingo, 27 de junho de 2010

A paixão tem seu preço

Laiza, mulata vaidosa, gostava de vestir-se bem. Sua mãe era costureira e fazia lindos vestidos para ela. Dona de um corpo escultural, que deslumbrava os homens quando fazia a entrega dos vestidos encomendados pelas grandes damas da sociedade. Havia sempre um comentário quando de sua passagem. Como uma menina tão jovem pode ser tão sensual???
Laiza era saudável, gostava de festas, namoricos e pinturas. Era capaz de trocar um vestido por um baton, rouge ou algo que lhe ressaltasse, tornasse mais marcante seu lindo rosto...

A moda entre os mais abastados era procurar casas à beira mar para passar os períodos de férias. Dona Neiva nunca deixou Laiza acompanhar suas clientes nestes passeios. O máximo que lhe permitia era andar de bicicleta e com roupas adequadas, como exigia o Esporte. Um short bem comportado!!!
O pai de Laiza, mulato pobre mas distinto, começou a temer pela reação que a beleza e a graça da filha despertava nos homens. Não demorou muito e começaram a aparecer os pretendentes... Ela ria e dizia: “Pai, eu não estou interessada em namorar, pode ficar sossegado”. Sossegado ele? Estava sim era preocupado, daí a pouco, faria a festinha de seus quinze anos e daí? Era preciso que Laiza encontrasse um homem trabalhador e sério para casar. Estamos em época de guerra e as mulheres vão ficar cada vez mais sozinhas, ao que tudo indicava. O Brasil também seria convocado a entrar, a qualquer momento, nesta guerra... Pensava ele...
Não demorou muito, uma vizinha viúva e com quatro filhos moços veio morar na mesma rua da casa de Laiza.
Todos os rapazes trabalhavam, dois com mercearia, um com padaria e o outro servia o exército. Este último, o mais malandro de todos era enfermeiro!! Bonito, alegre com belos olhos castanhos... Era um boêmio, insinuante e conquistador.
No dia da realização da festa do aniversário de Laiza, a familia foi convidada e todos compareceram!!!
Laiza estava linda, num vestido florido com mangas longas e um generoso decote nas costas, moda proposta pela modelo e atriz Greta Garbo. O visual sofisticado não combinava com a idade da mocinha. Mas “moda é moda”, pensava sua mãe! Para as loiras da época o modelo era Marlene Dietrich!!!
Laiza não tinha nenhum namorado, mas seu coraçãozinho já tinha dono! Desde que vira o enfermeiro, não parava de pensar nele, via nele tudo de bom, charmoso, bonito, cantava e tocava como ninguem!!! Era preferido pelas solteiras da região.
Ele acompanhou, no violão, o parabéns, cantado para ela.

Depois pediu licença para tocar um dos sucessos de Carmem Miranda, em homenagem à aniversariante. Foi solicitado a tocar outras melodias de Dircinha e Linda Batista, que eram sucesso das cantoras de rádio.
Já passava da meia noite quando os convidados começaram a se retirar, Laiza estava na sacada, sentindo a brisa leve e fresca da noite e agradecendo às estrelas o sucesso da festa!!
Alguém lhe enlaça os ombros e pergunta: “Sozinha?”
Seu coração parou, ou quase!
- ahn!

Foi só o que disse!
Enlaçou-a pela cintura e falou:

-Juro pela estrela mais brilhante do céu que nunca mais ficaras sozinha!
O coração batia tresloucado, quase a sufocando... Ela estava em seus braços e a vida era maravilhosa... Ele sussurrou mais algumas palavras de amor ao seu ouvido e ela encheu-se de alegria jubilosa!!
Pediu licença para namorá-la e começou a frequentar a casa. Cantava só para ela, dançava só com ela. Só havia festa para ele, enquanto estivessem juntos. Foi granjeando a simpatia da família, até que começaram a ter mais tempo a sós.
O rádio lançava notícias sobre a guerra, as atrocidades cometidas por Hitler.

No Brasil, a revolução Constitucionalista acaba, com a instituição do Estado Novo.
Mas a vida não para... nem diante da guerra, nem diante do amor.
-Grávida?
Perguntou-lhe sua mãe. “Que vergonha para nós? Que dirá seu pai?”
O pai ficou tão abalado que tentou suicídio. Expulsou Laiza de casa!!! O noivo há duas semanas não aparecia...
Quando foi procurá-lo, ele lhe disse:
-Querida eu não conseguirei prender-me a uma vida de casado!!
-Mas eu não tenho para onde ir?
-Casar até caso, mas não te prometo que mudarei meus hábitos!
Casaram numa cerimônia simples, apenas os pais e padrinhos. Ela foi morar com a sogra, já que os outros filhos estavam noivos e, logo, logo, deixariam a casa só para eles.
Os sonhos da mocinha caíram por terra quando ele voltou de manhã, da farra, com os amigos boêmios, na noite do casamento!!!
Laiza chorava, perguntando-se:
- O que havia de errado? Porque ele já não era mais o mesmo?
Ele como bom malandro, desculpava-se lhe beijava e ela esquecia tudo!!
Passara-se um mês... Era o primeiro aniversário de casamento. Colocou uma mesa bem bonita com velas e flores. Ficou a esperar-lhe.
A vela acabou, a comida esfriou e ele não apareceu.
Não voltou por três dias.
Como uma sombra ela procurava por ele. Ninguém sabia ou queria informar. A sogra nada disse, manteve-se calada.
Laiza foi sentindo um vazio enorme, sua cabeça parecia oca. Ficou tudo escuro e ela caiu!!Não resistiu a curetagem, morreram: Ela e a criança... .
Um vulto todo de preto, abriu alas no enterro. Ele queria vê-la!!!
Saia daqui gritou a mãe desesperada! saia seu monstro!
Perdão, Laiza perdão!!!
Mas ela já não podia mais ouvi-lo!!!
Uma música, ouvia-se ao longe, como fosse a resposta de Laiza:
"Monstro tirano porque vens agora? Lembrar-me as mágoas que por ti passei?
Lá neste mundo em que vivi chorando... Desde o momento que te vi e te amei...”

domingo, 16 de maio de 2010

Voce precisa ser corajoso...

Era um menino, lindo, inteligente vivaz. Ficara órfão aos sete anos. Primeiro morreu a mãe de uma doença misteriosa, que a deixara isolada num quarto, onde todos adultos, entravam com o rosto tensionado pela preocupação. Ele corria para ver sua mãe a cada hora em que a porta se abria. A sua irmã mais velha dizia abraçando-o:

- Não podes entrar aí a mamãe está muito doente.
- Mas eu quero vê-la!!!
- Tem que ser bonzinho, senão mamãe vai sofrer mais... Ele chorava mas não insistia. Amava sua mãe, não lhe desejava maior sofrimento!
Certa manhã, acordou, percebeu a casa cheia de gente, todos estavam falando baixinho. Sua irmã chorava alto e o pai, sentado na varanda, chorava silenciosamente, com suas lágrimas se perdendo pela face enrugada! Sua madrinha segredou para o marido:
- Como vamos falar a ele? Pobre criancinha!!!
O pai levantou-se devagar e colocou-o no colo dizendo:
Sua mãe partiu! Foi morar com Deus, agora somos só nós. . . três!!! E tu és o homenzinho da casa, tem que ser forte e corajoso para cuidar de nós. . .
Forte e corajoso!! Passou este a ser o lema de sua vida!
Levantava cedo e ia acompanhar o pai nas lides do campo.
Moravam na campanha, como muito outros, agregados, de um fazendeiro, que só visitava a fazenda em tempo de férias escolares.
Mas o fazendeiro se preocupava com seus empregados e com a educação de seus filhos! Colocou uma escolinha nas suas terras! A Escola Rural Multiseriada Nossa Sra. das Graças. Mais tarde, ele veio, a saber, na prática, o que era escola multiseriada.
Escola multiseriada é aquela em que todos os alunos fazem parte da mesma turma independente da idade ou da série. A professora divide o quadro em quatro partes de acordo com o adiantamento dos alunos: primeiro ano primário, segundo ano... e assim por diante. Uma só professora dava aulas para alunos de todas as idades e tamanhos. Todos fazendo parte da mesma sala de aula. A maioria dos alunos chegava a cavalo. A professora, vinda de longe, ficava morando na casa do capataz da Fazenda.
Houve festa de inauguração da Escola Nova, o pátio foi todo enfeitado de bandeirinhas de papel crepom verde e amarelo. Uma grande mesa foi improvisada com tábuas de madeiras e tripé de tronco de árvores finas. Foi carneada uma vaca e todos comiam churrasco, feito no fogo de chão, com espetos de madeira. As mulheres serviam doce de abóbora em calda como sobremesa e os homens bebiam caipirinha, uma bebida de aguardente com limão e mel e também vinho de laranja, uma especialidade oferecida pelo pai!!! O pai e seus amigos tocavam violão e cantavam abrilhantando o evento.
Tudo corria bem, apesar da falta que sentia da mãe. A vida lhe voltava a sorrir. Parece que tudo havia se resolvido. "Nada como o tempo para curar as feridas da alma"... Era o pensamento recorrente. . .
De noite o pai contava lindas histórias para ele e sua irmã. Contava de serenata, que fazia com seu violão, quando moço, das campeiradas e das caçadas de tatu em tempo de lua cheia.

Outras, de mistérios, de assombração e de almas do outro mundo, que deixavam o menino e sua mana todos arrepiados, ainda mais à noite, com a luz tremeluzente do lampião de querosene. Foi um tempo lindo que durou dois anos!!!
Certa noite o pai não se sentiu bem para contar histórias. No outro dia, não levantou para atender os animais. Ele foi fazer seu trabalho de costume. Quando chegou, novamente uma angustia lhe apertou o peito... A casa estava cheia de vizinhos. Na porta tinha um pano preto... Apeou do cavalo e seguiu devagarzinho. Sua irmã estava com o rosto deformado de tanto chorar...
Aconteceu, disse ela!! Abraçaram-se e choraram até ficarem cansados... Chegaram os parentes do pai, da mãe!

Logo após o enterro, aconteceu ainda pior: ele fora separado de sua irmã, sob a alegação de que, sendo menores, não podiam ficar morando sós! A irmã foi morar com os tios, um irmão de sua mãe e a esposa. Ela tinha que continuar a estudar.
-E eu? Perguntou o menino alucinado!!
Não se preocupe tu irás viver na nossa casa, disse a madrinha, precisa ser corajoso... Novamente corajoso!!!
Na casa dos padrinhos, sentia-se muito só. Seus padrinhos tinham seus próprios filhos. Afogava sua tristeza no trabalho. Ajudava a rebanhar ovelhas tirar leite das vacas e ir ao povoado buscar viveres e, às vezes, o médico para a madrinha ou para seus filhos menores. Até mesmo enfrentara uma tempestade cuja estrada se clareava com os próprios relâmpagos para buscar o médico!!! Você precisa ser corajoso! Ouvia o pai! Mas ele tinha apenas onze anos! Órfão não tem idade!!!
Certo dia deu de cara com uma ninhada de cachorrinhos. Tão lindinhos
Voltou correndo e contou para "os de casa". A madrinha lhe autorizou a escolher um!!!
-Mas só depois dele ser desmamado e abrir os olhinhos! Viu? Saiu cantando. Estava muito feliz! Como um fato tão simples pode deixar alguém tão feliz? Bem dizem que a felicidade é feita de momentos felizes pensou.
Companheiro, nome dado ao seu cão, era um amigo inseparável Ajudava a repontar as ovelhas, brincava de rolar-se pela grama verdinha e dormia com ele no pelego de ovelha que também lhe servia de cama, junto aos outros peões. Agora sim ele não estava mais sozinho, Companheiro lhe era inseparável, aprendeu a dar bom dia com a patinha e buscar objetos lançados pelo seu dono!!!
Companheiro porém, tinha parentes, que não foram tão bem criados... Falava-se que matavam ovelhas e não comiam??? Só matavam. Isso trazia prejuízos aos fazendeiros e a peonada não estava satisfeita.
Acordou certo dia assustado!!! Chamou Companheiro, mas ele não estava alí Correu até a casa e deparou-se com o mais dantesco dos espetáculos! Contra a luz do sol nascente se divisando o horizonte pendiam pendurados, quatro cachorros! Enforcados!!! Ele firmou o olhar para se certificar... Um deles era Companheiro. Deu um grito de dor tomou uma faca e investiu contra um dos peões, que alarmado disse:
- Que é isso piá? Não matamos teu cachorro!!!
Companheiro era um cão comum, era igual a outos tantos que por aí perambulam. Só era especial para seu dono...
O menino saiu em disparada correndo à toa, chorando e limpando os olhos na jaqueta!!! Correu tanto a esmo, chorou tanto que, exausto de cansaço, dormiu!!! Quando acordou, viu sua madrinha chorando junto dele! Filho, te daremos outro cãozinho, volta comigo, seja corajoso!!! Não deixa a tua madrinha sozinha, ela precisa de ti...
Pobrezinha pensou o menino! Ela não pode fazer nada. Quem manda nesse mundo são os homens!! As mulheres e as crianças não contam...
- Nunca mais quero nenhum cão!!! Respondeu!
Ele nunca mais voltou a ser o mesmo, amadureceu, virou homem, matou o menino junto com seu cão numa mesma madrugada...

sábado, 27 de março de 2010

Libertação

Que emprego arrumaria agora que tinha deixado a penitenciária, onde cumprira pena por homicídio? Como havia se torturado durante estes anos todos buscando indícios, algo que provasse que não era culpado??
Nos primeiros dias, sentiu o chão gélido da cela, compartilhada por uns outros tantos infelizes que também aguardavam julgamento. No início, a comida escassa, a falta d’água, os limitados recursos higiênicos eram desesperadores para ele. Depois, aos poucos já não se importava mais. Tinha uma certeza absurda, dolorida, de que nunca sairia daquele inferno!


Era um homem culto. Tinha estudado no seminário. Era um orgulho para família ter um filho dedicado a Deus... Ele era esse orgulho.
Dias transcorreram e chegou, afinal, o Julgamento.
Apresse-se, faça a barba, tome banho, pois hoje irás passear. Não queremos que pensem que vocês criminosos são maltratados aqui... Deu uma gargalhada e saiu! Era o carcereiro!
Sentado no banco dos réus, ouviu a sentença: “CULPADO”. Estremeceu... Ele era inocente!
Lembrou como tudo se passou.
Tinha deixado o Seminário porque não sentia a vocação para padre. Voltou para casa. Após a morte da mãe, já não era a mesma. O pai lutava com dificuldade para o seu sustento e o dos demais irmãos, trabalhava na roça, plantando e colhendo feijão, milho-verde e aipim.
Não queria esta vida... Foi para cidade, empregou-se de professor de música e tudo corria bem até que conheceu Ramiro. Jovem bem nascido, cheio de posses, que não fazia diferença entre os amigos, quer fossem pobres ou ricos.
Sua vida entrou numa nova fase. Divertimentos,mulheres, bebida. Tudo tão novo. Tudo tão diferente! Ele sentia-se feliz. Ramiro, porém, tinha um defeito: quando bebia, se transformava em outra pessoa! Ficava violento. Mas isto logo passava. Durava o tempo do pileque.
Foi num destes repentes que Ramiro esfaqueou um antagonista de jogos de carta. O rapaz não resistiu, vindo a falecer...
No momento, Ramiro virou-se para mim e abraçando-me suplicou:
- Ajuda-me!
- Como? Eu fitei-o incrédulo:
- Não sei!!! Saiu a toda velocidade no seu jipe... Éramos quatro... Fiquei apenas eu junto ao cadáver...
- Nãaaaao, sou inocente, sou inocente! Gritou, mas seu grito caiu no vazio.
- Todos dizem isso falou o policial Acompanha-me!
Não era ele que acompanhava o policial. Era um espectro sem alma, sem amigos sem ninguém!
Para onde irei??? Agora que fui libertado??? Que farei num mundo que não mais conheço??
Desilusões, humilhações... Falta de dinheiro. Entregou-se à bebida... Perambulou pelo mundo. Um mundo tão hostil...
Sentado no banco da praça, não resistiu ao frio da madrugada, ao frio interno de sua desdita. O grande frio de sua libertação...
“UM HOMEM DE APROXIMADAMENTE 50 ANOS MORRE DE FRIO NA MADRUGADA”, ecoava o grito do vendedor de jornal!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Benção Extra

Flora ficou admirada! Sem mais nem menos, o destino lhe colocou nos braços um anjinho cor de rosa: Era seu neto!!! Entre surpresa e a alegria ela agarrou com mãos trêmulas aquele pacotinho abençoado... A emoção era tanta que ela só pode dizer com voz entrecortada: É lindo... E o apertou contra seu próprio peito com a delicadeza de quem cultiva uma jóia rara.
Como a vida nos surpreende, quando pensamos que já cumprimos todas as etapas de nossas responsabilidades, como num passe de mágica, eis que nossa vida está novamente cheia de significados...
Que bom, Deus pensa em tudo. Quando pensamos que já estamos no passado,
vivendo de recordações, Ele nos brinda com a benção extra: os netos.
Os netos são a grande alegria da velhice. Quando estamos com eles parece que o tempo para. É um eterno domingo...
Flora chamou por Lourdes sua serviçal, enquanto estacionava o carro na garagem. - - - Agora tudo mudou!
- Mudou o que? Perguntou Lourdes.
- Tudo, respondeu Flora.O que era antes já não o é mais. Temos agora o meu neto!
- Mas e daí?
- Dai é que teremos que dar uma arrumada na casa para que se torne adaptada a um bebê. Quero vê-lo correndo solto por aqui, sem o risco de machucar-se e que não seja evitado tanto quanto possível, para que ele se sinta feliz e alegre na casa da vovó!
- E suas lembrancinhas dos passeios turísticos que estão espalhados pela casa?

- Guarda tudo. Ah! Aquela toalha de crochê, presente de minha falecida sogra, guarda também por que ela corre o risco de virar uma barraca, um navio pirata ou outra coisa que a imaginação do miúdo permitir...

- Vou subir e tomar um banho. Cantarolando pensava “Como estou feliz .Como é bom viver. Mas não posso de modo algum interferir na educação dele, disciplina, educação são as responsabilidades dos pais...eu SOU APENAS AVÓ, que deve colaborar para que meu neto seja saudável alegre e feliz!”

Puxa pensou Lourdes, nunca a tinha visto tão alegre depois que perdeu o marido, que bom! Dona Flora é uma pessoa muito boa e consciente. Tudo vai dar certo! Eta guri sortudo!!!



Penteando os cabelos, Flora admirava sua figura era uma mulher bonita e agora este neto tinha trazido mais luminosidade ao seu olhar....

Pensava satisfeita.

“É... nossos filhos e depois os netos representam a continuidade da nossa vida na Terra...

É o nosso rastro pelo mundo...”

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Delírio

Nada acontece! Os dias e as noites sucedem-se numa monotonia inquietante...

O silêncio é marcado por passos. Toc... toc... toc... O medo é o eterno companheiro. O silencio à noite chega a ser aterrorizador. Saúdo com certa alegria o som de vozes alternando-se. Deve ter amanhecido. Essa é a diferença entre o dia e a noite!

O infindável dia. Começa a se arrastar até que aparece alguém, que terá que sair rápido, por ter deixado muitos compromissos lá fora . É o horário de visitas! Sempre com muita pressa, alternam-se os visitantes, aliviando sua consciência por terem cumprido seu papel...

Dias, noites, horas e minutos esvaem-se lentamente como uma interminável estrada deserta. Silêncio... Silêncio e solidão. A solidão dói mais que uma dor física porque dilacera o coração.

A vida nos tira o direito à convivência, quando nos marca com a doença. Especialmente na velhice, quando em fase terminal... Só temos máquinas por nossas companheiras nos momentos de agonia! Por que não se pode morrer apertando a mão de um ente querido? Porque tem que ser assim? Tão só e entre gente desconhecida? Será que não há uma forma para uma passagem mais amena?

De repente tudo se transforma. Uma mocinha linda vestida de azul.Uma bailarina de balé clássico, dança sorrindo... sorrindo... na neve! Tudo é tão gelado, mas ela dança com a força vicejante da primavera.

Estou cara a cara com a bailarina, minha imagem confunde-se com a dela. Hum, que bom... Tenho o domínio de meu corpo novamente, ele flutua... Flutua no espaço! Com total liberdade de movimentos...

Já tinha me esquecido da beleza e da leveza da juventude. A juventude não tem época por que é sempre juventude. Sinto-me tão jovem!!! Flutuando... Flutuando. Tão livre, tãolivre, flutuando... flutuando...

sábado, 2 de janeiro de 2010

Para ler e refletir...

Meus amigos achei muito bom este texto de ARNALDO JABOR que quero socializar com vocês!!!Vejam só , com que belo texto ele nos presenteou:
"O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho.É viver cada momento e construir a felicidade aqui e agora.Claro que a vida nos prega peças.O bolo não cresce ,o pneu fura,chove demais,perdemos pessoas que amamos...
Mas,pensa só:
Tem graça viver sem rir de gargalhar.pelo menos uma vez ao dia?Tem sentido estragar o dia por causa de uma discussão na ida para o trabalho?
Eu quero viver bem...e você? 2009 foi um ano cheio de coisas boas.mas também de problemas e desilusões,tristezas e perdas.reencontros...
Normal!
2010 não vai ser diferente.Muda o século, o milênio muda, mas o homem é cheio de imperfeições ,a natureza tem sua personlidade que nem sempre é o que a gente deseja,mas e aí?Fazer o que?Acabar com seu dia?Com seu bom humor?Com sua esperança?
O que eu desejo prá todos nós é sabedoria.E que todos nós saibamos transformar tudo em uma boa experiência...
O nosso desejo não se realizou?Beleza !Não estava na hora poderia não ser a melhor coisa para esse momento...Me lembro sempre de uma frase que ouvi e adoro "cuidado com seus sonhos e desejos eles podem se tornar realidade"
Chorar de dor ,de solidão,de tristeza,faz parte do ser humano...Mas se a gente se entender e permitir olhar o outro e o mundo com generosidade,AS COISAS FICAM DIFERENTES.Desejo para todo mundo este olhar especial!
2010 pode ser um ano especial,se o nosso olhar for diferente.Pode ser muito legal se entendermos nossas fragilidades e egoismos e dermos volta nisso.Somos fracos,mas podemos melhorar .Somos egoístas mas podemos entender o outro.
2010 pode ser o máximo,maravilhoso, lindo ,especial!
Depende de mim...De você.Pode ser... e que seja!"