sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Delírio

Nada acontece! Os dias e as noites sucedem-se numa monotonia inquietante...

O silêncio é marcado por passos. Toc... toc... toc... O medo é o eterno companheiro. O silencio à noite chega a ser aterrorizador. Saúdo com certa alegria o som de vozes alternando-se. Deve ter amanhecido. Essa é a diferença entre o dia e a noite!

O infindável dia. Começa a se arrastar até que aparece alguém, que terá que sair rápido, por ter deixado muitos compromissos lá fora . É o horário de visitas! Sempre com muita pressa, alternam-se os visitantes, aliviando sua consciência por terem cumprido seu papel...

Dias, noites, horas e minutos esvaem-se lentamente como uma interminável estrada deserta. Silêncio... Silêncio e solidão. A solidão dói mais que uma dor física porque dilacera o coração.

A vida nos tira o direito à convivência, quando nos marca com a doença. Especialmente na velhice, quando em fase terminal... Só temos máquinas por nossas companheiras nos momentos de agonia! Por que não se pode morrer apertando a mão de um ente querido? Porque tem que ser assim? Tão só e entre gente desconhecida? Será que não há uma forma para uma passagem mais amena?

De repente tudo se transforma. Uma mocinha linda vestida de azul.Uma bailarina de balé clássico, dança sorrindo... sorrindo... na neve! Tudo é tão gelado, mas ela dança com a força vicejante da primavera.

Estou cara a cara com a bailarina, minha imagem confunde-se com a dela. Hum, que bom... Tenho o domínio de meu corpo novamente, ele flutua... Flutua no espaço! Com total liberdade de movimentos...

Já tinha me esquecido da beleza e da leveza da juventude. A juventude não tem época por que é sempre juventude. Sinto-me tão jovem!!! Flutuando... Flutuando. Tão livre, tãolivre, flutuando... flutuando...