domingo, 20 de dezembro de 2009

A Boneca

Peguei um galho de árvore seco, passei uma mão de cal... Pronto! Ficaria lindo na sala. As crianças vieram correndo com as bolas e sininhos feitos de papel dourado e prateado que juntavam das carteiras de cigarro, e que eram elaborados na escola como trabalhos manuais. Olha mãe! Vamos enfeitar a árvore de Natal! Eles gostavam tanto de enfeitar a casa! Eles ficam felizes e eu também. . .
Agora, vamos tomar banho e dormir, para deixar Papai Noel colocar os presentes com tranquilidade nos sapatinhos que vocês colocaram na janela!
Eles foram deitar e depois de eu desejar-lhes boa noite sai para a varanda. A noite estava muito estrelada. Uma linda noite, pensei... Meu pensamento voou ao passado e lembrei-me de minha irmãzinha caçula... Ela não caminhava sofria de uma doença estranha que aos poucos lhe ia paralisado os músculos e membros.
No dia da entrega de boletins, minha mãe sempre a levava na escola para receber o meu. Ela não queria deixá-la com ninguém. Neste dia, minha irmã viu exposta na secretaria uma linda boneca, que seria rifada na Festa de Natal, anualmente realizada na escola.
Todos os dias, dava uma passadinha na secretaria para admirar a boneca. A professora ofereceu-me um número da rifa. Quem sabe a boneca não será sua...
Hoje é o grande dia, pensei. Fui a primeira da fila a esperar o resultado. Tinha vendido duas cartelas de dez números cada, que me dava o direito de ganhar dois, grátis. Eu estava concorrendo com dois números, tinha chance...
- Vamos iniciar o sorteio da boneca! Quem ficará com ela?



Eu rezei baixinho.
- Vamos chamar a diretora, para retirar o número.
- Aqui, por favor! Passe-me o papel! O número fora retirado de dentro do saquinho, onde se lia em letras vermelhas: “Rifa”.
- Saiu para o número... Fez suspense. Repetiu de novo... Saiu para o número... 33! Disse finalmente!
- Não quero boneca, disse um menino. Que ironia do destino. A boneca saiu para um menino... E ele nem a queria!
Mas quem sabe, faça um presente a sua irmã.
- Não tenho irmã!
Cheguei perto dele e propus.
- Não quer vender a boneca?
- Não, vou dar para minha mãe
Ele correu e abraçou uma senhora morena e magrinha.
- Olha mãe eu ganhei Toma a boneca é sua!
Obrigada filho. Pena que não tenhamos uma maninha, não é ?
Ouvindo isso, arrisquei dizer::
-A senhora não quer vender a boneca?
- Para quem? Respondeu ela
- Para mim!
Ela riu... Propôs ao menino
- Vamos dar a boneca a menininha?
- Não, não e não
Ela agachou-se para ficar na altura dele e disse com ternura:
- As meninas gostam mais de brincar com bonecas e eu vou te dar aquele...
- Não! Só se me der um jogo de memória para jogar bate e vira, com meus colegas!
Então vamos comprar e dar a boneca de presente para ela, disse apontando para mim!
Corri para ela.
Abraçou-me e disse “feliz Natal”, passando-me a boneca.
Nossa! Só podia estar sonhando eu estava de posse da boneca. Saí correndo com a boneca esmagada ao peito, com medo que o menino desistisse!
- Que é isso menina, perguntou mamãe vendo-me entrar esbaforida...
Eu ganhei, ganhei a boneca para a maninha!!!
- Verdade filha?
Quer dizer, não foi bem assim, eu não ganhei no sorteio, mas da mãe do menino, que foi sorteado com ela!
Que boa pessoa, falou mamãe.
Entrei no quarto devagarinho, minha irmã virou o rosto para mim e me saudou.
- Oi mana! E a boneca?
Tirei as mãos das costas e mostrei: Esta aqui!!!
Ela estendeu os bracinhos e lhe entreguei a boneca. Ela ninou como se fosse uma criancinha. Depois me deu o mais lindo presente de Natal: O seu sorriso de agradecimento.
- Obrigada mana!!!
Nós a perdemos dois anos depois...

2 comentários:

Elenara Stein Leitão disse...

Pura emocão. Fico encantada com a tua maneira de descrever as histórias. E mostrando que a verdadeira emocão do Natal está muito mais em dar do que receber.
Beijos

Vera disse...

lindo comentário Elenara obrigada